Piraporinhaex


Caro Criolo, vamos às atividades do dia: flanar pelas ruas da Piraporinha, Zona Sul de São Paulo.

É Mano Brown! "Zona sul é o invés, é stress concentrado/Um coração ferido, por metro quadrado".

Bar do Joaquim, o eterno retorno, diria o niilista alemão, com o seu soberbo bigode.

É o bar da comuna, autogestão na veia, diria o professor de História, frequentador do botequim, depois de mais uma dose de São Francisco.

Chego na maciota, sem vacilo, lembrando dos versos alvitrados do Criolo: "pode colar, mas sem arrastar/Se arrastar, a favela vai cobrar".

Una birra, per favore, Joaquim - peço a cerveja e saúdo os jogadores de bilhar, compenetrados na partida, que apenas retribuem o gesto com um tímido meneio de cabeça.

Um dos homens, com o taco de bilhar na mão, interpela o oponente:
- Orra meu, cê tá matando mais que Aids - sentencia o moreno, com uma camiseta puída do Corinthians.

Quando o moreno fica de costas, dá pra perceber a frase inscrita, acima do número dez: "Deus é fiel".

Peço um torresmo, e enquanto saboreio a iguaria, percebo a propaganda ao lado.

O saquinho de batatas fritas pendurado no varal, com um prendedor de madeira, anunciava as qualidades do produto: "feito em puro óleo de girassol, tem 70% menos gorduras saturadas, zero de gordura trans e sem aromatizantes sintéticos".

Observo a ferrenha partida de bilhar e as cinco latas de tintas Suvinil, que repousavam serenamente embaixo da mesa, imunes ao burburinho etílico dos jogadores.

Um dos jogadores nota a chegada de um homem e comenta, para deleite dos ébrios:
- Olha lá que vem! E não é que é o Sidgay, mano.

O moreno ricocheteia uma gargalhada torrencial e suspira:
- Cê é foda, hein bitcho!

Sidney, com uma camiseta do Unidos da Piraporinha Futebol Clube, pede uma bebida mentolada, e com uma nota carcomida de dois reais aciona a jukebox.

- "Onde, onde/uaisti them all fall down/onde, onde, domino dancing" - solfejou Sidney, num misto de português com inglês, embalando na sequência passinhos pelo bar, com o seu indefectível Le Cheval prateado.

Um cidadão, depois de traçar um PF colossal com rabada, desata a chorar. O fundo musical agora é outro.

Melancolia on the rocks, no ritmo de Calcinha Preta. "Me joga no google, me chama de pesquisa/Diz que eu sou tudo que você procurava".

O inveterado fumante acende um Derby, extra suave, ao lado da placa que sinaliza "é proibido fumar neste local".

Um legalista o repreende: "apaga esse cigarro aê. Se os fiscais chegá, eles vão carcá a caneta sem dó".

O fumante, indiferente aos malefícios do tabaco e aos ditames da lei, retruca o legalista:
- A última vez que um fiscal apareceu aqui, ocê num tinha nem pelo no saco, manolo.

Eu, um reles cronista, ao lado do cartaz do Magrão do Teclado, decido tirar o time do campo. Já tenho material suficiente para uma nova crônica.

Despeço dos novos amigos e ouço um "vai na paz, irmão!".

"Pregar a paz, sim, é questão de honra/Pois o mundo real não é o Rancho da Pamonha".

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Comentários

  1. É a Comuna, manolo!!! hahahahahaha... O bar mais socialista da Zona Sul. Pelo menos até a hora de pagar a conta!
    Muito boa sua crônica, adorei!
    Ass: Palestina (vulgo: Renan), rs...

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