Eleonora
Os dias estavam cada vez mais angustiantes para Eleonora. O álcool tinha
dominado a mãe. Possivelmente seriam despejados do cortiço. Cada irmão tomou um
rumo diferente. Buscava o seu norte. Sete irmãos. Antônio. Fabiano. Elizete.
Jurema. Odete. Lucinda. Aracy.
Antônio casou-se e mudou para o Grajaú, zona sul da cidade. Fazia bicos
como eletricista.
Fabiano tomou o rumo da zona leste. Foi morar com Neusa em Itaquera.
Elizete, grávida de seis meses, de um homem casado, amasiou com
Sebastião, que assumiria o filho como seu.
Jurema virou militante sem-teto, junto com o marido. Moravam numa
ocupação na Florêncio de Abreu.
Odete continuava como diarista num apartamento em Pinheiros. Morava no
próprio trabalho, alojada no quarto de empregada. Nos cultos aos domingos, no
templo evangélico, agradecia a Deus pela oportunidade.
Lucinda era cozinheira de um boteco, em Santa Cecília. Alugou
um quarto numa pensão próxima do Minhocão, onde poderia colocar fotos de
celebridades nas paredes.
Aracy, cujo nome fora uma homenagem da mãe para a cantora Aracy de
Almeida, morreu atropelada, numa tarde chuvosa, no cruzamento da Teodoro
Sampaio com a Avenida Henrique Schaumann. Vendia balas no cruzamento, e quando
pisou a faixa de pedestres um motorista, imprudente, com a sua Pick-up vermelha
avançou o sinal vermelho e decretou o final trágico da sua vida. Vida escrita
em cima dos manuscritos de sacrifícios e humilhações.
Eleonora pensava exaustivamente na mãe. Há dias não voltava para casa.
Saiu nas imediações do cortiço para procurá-la, sem êxito. Na última vez em que
a viu, a mãe estava com um grupo de moradores de rua em frente ao antigo prédio
do DOPS.
No dia seguinte, ao chegar ao edifício onde trabalhava, Jair a abordou.
Queria saber a motivação que a fez procurá-lo no bar. Eleonora não sabia o que
responder. A situação da mãe a abalava profundamente. Respondeu em evasivas e
subiu rapidamente para o apartamento. O trabalho seria sua terapia. As longas
olheiras denunciavam a noite mal dormida.
Ei,
Eleonora, fica na farra até tarde e vem trabalhar nessas condições. Está cheio
de gente querendo trabalho. Está mais que na hora de valorizar o seu.
Eleonora
não teve tempo de conter o choro, muitas vezes reprimido, e que naquele momento
irrompeu, sem cerimônia.
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