Conversa de barbeiro


Zé de Brito é um bom baiano. A Bahia deu régua e compasso e ZB saiu pelo mundo, com a cara e a coragem.

Pertence à "Bahia de todos os santos, de São Salvador, de Mãe Menininha do Gantois". "Bahia de Castro Alves, do acarajé, das noites de magia, do candomblé".

Para caetanear o que há de bom, os versos "quem vem de lá, sente saudade, do paladar, e da brisa do mar de Ondina, sol de Amaralina, da pele morena e do vatapá", ecoam na memória de ZB.

Pois é, Zé de Brito sente uma saudade arretada, mas adotou Gastão Vidigal, interior de São Paulo, com unhas e dentes.

Segundo a lenda, veio amarrado, num pau-de-arara, para o interior de São Paulo e só volta para lá, como não cansa de frisar, amarrado.

Personagem de um salão, é barbeiro dos "miós" da praça. Igual à canção "Carcará", do João do Vale, o cabra é barbeiro, é valentão, é a águia de lá do meu sertão, os moleque novinho num pode andá, ele puxa o cabelo inté cortá.

Quando me refiro ao Seu Zé, jamais utilizo a palavra cabeleireiro, pois o cabra não permite tais designações. A profissão de barbeiro já abrange o ofício completo, inclusive o de cabeleireiro, ops... retificando, aparador de cabelos.

O salão de Zé de Brito é daqueles que, em suma, deveriam ser tombados pela UNESCO como patrimônio cultural da humanidade.

Não tem tecnologia high-tech, design avançado, paredes com texturas diferentes. Nada de frescurites. Nem imagina “fazer permanente, massagem, rinsagem, reflexo e outras cositas más”.

Agendamento por telefone uma ova, vitupera ZB. O diferencial está na cerveja gelada.
 
Nuuu! – brada o cético. “Isso mesmo meu caro incrédulo”, rebato em seguida.

Um fio de cabelo no meu paletó, como na canção sertaneja, aqui é transferido para o copo de cerveja. “Aquele fio de cabelo comprido já esteve grudado no nosso suor” e no nosso copo.

O que torna ZB diferente e, fundamentalmente, um eminente barbeiro é uma deformidade. Quando era criança na Bahia, Zé de Brito quebrou o braço. Como a região era carente, sem nenhuma infraestrutura, portanto, sem a mínima assistência médica, o braço foi “colado” errado. O que era para ser uma desvantagem, transformaria-o num gigante pela própria natureza.

Como o Mané, gênio das pernas tortas, Zé de Brito tornou-se, com essa ironia do destino, um notável barbeiro e um hábil jogador de bilhar.

Quando um adversário, na mesa de bilhar, fica surpreso com a sua performance, ZB solta essa:
- Rapaiz, paguei num foi pouco não, pra ficá com o braço torto desse jeito.
 
Genial esse Seu Zé de Brito!

A crônica é uma homenagem ao nosso querido barbeiro. E olha meus caros, que o PPP não faz jabá para ninguém. Até porque para o Seu Zé, jabá é prato de sustança e dos bons.


O título da crônica foi espelhado numa canção homônima, do rei do baião, Luiz Gonzaga.

Comentários

  1. Quando for a GV farei questão de aparar meus parcos fios no Zé de Brito. A propósito ele faz a barba?

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    1. Daniel ali impera o famoso binômio barba-bigode. Caso esteja cheio o salão é só aguardar tomando uma gelada. Abraço!

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  2. Aí Gustavo, legal a homenagem.Gostei da inserção básica do Zeca Baleiro no meio da crônica. Bjs!!!

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  3. So q la da onde ele veio não tem praia nao cumpadre la tem e palma.....caatinga...agreste...sertao nordestino....e viva a baxa do moco....

    Marcio Douglas

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  4. Como já lhe falei meu amigo, maravilhoso texto, de fazê sai lágrimas desses baiano que criaram raizes no saudoso Gastão!! Uma linda homenagem, que no fim do anos será brindada na mesma BAR-bearia !!!
    Obrigado.

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  5. Gustavo to sem palavras, q linda homenagem pro meu velho pai, eita baiano porreta, gente honesta ta ali, muito orgulho dessa história., e você tá de parabéns, ta saindo um ótimo escritor, parabéns pelo seu blog..super original..abço..

    Ines de Brito

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