Soneto de separação

"Sí, sí, sí, compreendo" -- resmungou o  galego, companheiro de muitas tardes, no balcão do Dinho's Bar, depois de três rabos de galo na cachola.

"Eu fui o culpado, rogo o seu perdão/venho lhe seguir, lhe pedir desculpas/foi por minha culpa a separação". -- cantarolei alvorotado ao amigo galego.

A distância o separa. Vinte mil léguas submarinas do botequim.

Admito, sou réu confesso e "longe de você já sou mais nada".

Meus caros amigos, nada mais doloroso que a separação do botequim predileto.

Você muda de casa, de cidade ou daquela velha roupa colorida, "pois o passado é uma roupa que não nos serve mais", e não mais que de repente, do riso faz-se o pranto.

Não adianta apertar a tecla da nostalgia, pois agora você está em outro bairro, outra cidade, outra dimensão cósmica.

Mesmo que você repita os clássicos versos do Titãs, "não sou de São Paulo, não sou japonês/não sou carioca, não sou português/não sou de Brasília, não sou do Brasil/nenhuma pátria me pariu".

Em qualquer lugar desse universo chamado alma, sentiremos o chicote da nostalgia nos açoitando e, colocaremos naquela velha vitrola, a bela canção "chega de saudade".

E depois da quinta dose de melancolia, você repetirá o bordão, "a realidade é que sem ela não há paz".

E vocês, meus caros, no frenesi da "Sessão Sonetos", respondam a enquete: qual botequim, hoje distante, faz falta, na sua, na nossa, rádio atividade?

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