Para viver um grande terror: Carminha, Max, Nina y otras cositas más





Se estivesse vivo, Vinicius de Moraes completaria 99 anos, no dia 19 de outubro de 2012. Grande compositor e um extraordinário poeta. Uma perda irreparável.

“Poeta, poetinha vagabundo, quem dera todo mundo fosse assim, feito você, que a vida não gosta de esperar, a vida é pra valer, a vida é pra levar, Vinícius velho, saravá”.

Carlos Drummond de Andrade já dizia: “Vinicius é o único poeta brasileiro que ousou viver sob o signo da paixão. Quer dizer, da poesia em estado natural”.

Poeta, meu poeta camarada, faleceu em abril de 1980. Olha que já são trinta e dois anos, sem o brilho do poetinha-mor. Saudades, “e por falar em saudade, onde anda você, onde andam os seus olhos, que a gente não vê”.

Hoje Vinicius é componente de um elenco estelar, junto com outros batutas. No Céu, Vinicius nunca abusou da regra três e, como prêmio, por bom comportamento, recebeu um grande presente do Criador. No dia do seu aniversário, poderia passar seis horas na Terra. Além do mais, poderia levar um amigo, para tão nobre missão.

Vinicius mal acreditava no presente. Sem delongas na tonga da mironga do kabuletê, pois “a gente mal nasce, começa a morrer, depois da chegada, vem sempre a partida”.

O poetinha convidou o seu grande amigo, Tom Jobim, para o banquete dos deuses. Amigo é para essas coisas, “um ser que a vida não explica, que só se vai ao ver outro nascer, e o espelho de minha alma multiplica”.

"A bênção, maestro Antonio Carlos Jobim, parceiro e amigo querido, que já viajaste tantas canções comigo, e ainda há tantas por viajar". Simbora, maestro!

Às 18 horas, em ponto, do dia 19 de outubro de 2012, Vinicius e Tom desceram em Ipanema.

Avistaram um bar, na Rua Nascimento e Silva, 107. Entraram e pediram um maço de cigarros. Quanto tempo que não fumavam um cigarro. No Céu não é permitido tal capricho. Nem bem pagaram, já acenderam o cigarro dentro do bar.

O atendente, furioso, advertiu-os, argumentando que era proibido fumar dentro do bar.
- Que planeta vocês vivem? Não conhecem a lei?

Saíram do bar, indignados. "É tão difícil, tá difícil, tá difícil, pode ser, mas tá difícil, tá difícil de entender". Quanta caretice!

Depois de saborear um cigarro, sedentos, buscavam uma água de beber, água de beber, camará.

Entraram em outro bar e pediram um uísque. Enquanto bebiam na calçada, contemplavam as beldades que passavam. Cantarolavam “olha que coisa mais linda, mais cheia de graça, é ela menina, que vem e que passa, num doce balanço, a caminho do mar”.

Com alguns bons amigos, bebendo de bem com a vida. Encantados com a atmosfera, aproveitando cada minuto nessa curta passagem terrestre. O que os intrigava, era a pressa, na qual os transeuntes passavam pelas ruas. Os bares estavam vazios, literalmente, às moscas.

Depois de uma peregrinação, uma via-sacra etílica, chegaram finalmente ao estimado bar, que batiam cartão, nos áureos tempos. O bar era o predileto dos dois.

Estranharam a movimentação, pois naquele horário, o bar era para estar lotado. A curiosidade estava à flor da pele. Perguntaram ao garçom o que se passava.
- Hoje é o final da novela.

Que decadência! Olhos estatelados! “De repente do riso fez-se o pranto, silencioso e branco como a bruma”.

As estruturas ruíram mesmo, quando o garçom ligou a “TV a cores no paiol de pólvora”. “Tomem lugares no paiol de pólvora, vai pelos ares o paiol de pólvora”.

Um senhor, desesperado, pois tinha ido ao toalete e perdeu um trecho da novela, perguntou ao poetinha:
- Quem matou Max?

Se estivesse antenado, Vinicius poderia responder: melhor você perguntar lá no Posto Ipiranga, mas o poetinha não se conteve.
- No meu tempo, perguntava-se quem tinha matado a última dose do uísque, o melhor amigo do homem, o cachorro engarrafado.

Vinicius estava visivelmente desolado e ainda emendou:
- Mas você, que esperança... Bolsa, títulos, capital de giro, public relations (e tome novela!), protocolos, comendas, caviar, champanhe (e tome novela!), o amor sem paixão, o corpo sem alma, o pensamento sem espírito (e tome novela!) e lá um belo dia, o enfarte; ou, pior ainda, o psiquiatra.

- Para mim chega! Esse mundo não é mais para mim. Simbora, maestro!

- Que loucura esse mundo se transformou, hein Vinas! – completou Tom.

- Tom “mas não tem nada, não, tenho o meu violão”.




Comentários

  1. No final das contas quem matou o Max foi a tal da Carminha! Que carma né companheiro! E o mestre Virgílio antenado na trama? Ou tramado no uísque?

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  2. Belas palavras sobre o poeta, inspirou.

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  3. É Gustavo, passando por ali, o Chico gritaria, do outro lado da rua,"tem dias que a gente se sente, como quem partiu ou morreu". E enquanto entrava num taxi, desolado com a caretice da noite, o Edu ainda teria tempo de completar, "o que é que tem sentido nessa vida, não vai ser casa nem comida (...) eu sinceramente preferia, uma vida de poesia, na vigília de um amor". Ao que Toquinho encerraria, "amigos meus está chegando a hora, em que a tristeza aproveita pra entrar". Haja BIP!!!

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