Botequim Futebol Clube




O Botequim Futebol Clube entra em campo mais uma vez. O juiz apita e dá inicio a mais uma peleja. Avante companheiros! Nada de firulas. A vida deve ser jogada, como ela realmente é.

Todo botequim que se preza, tem uma referência ao futebol. Mesmo minimamente. Pormenores; "detalhes tão pequenos", "são coisas muito grandes, pra esquecer, e a toda hora vão estar presentes, você vai ver...."

A alusão ao futebol se manifesta corriqueiramente, seja através de imagens, camisetas de times que adornam o espaço, troféus dos mais variados campeonatos, pôsteres etc.

A pitoresca parafernália que remete ao futebol é admirável, mas o mais importante, sobretudo, nos botequins, é o elenco que compõe esse timaço imbatível.

Tem o atacante que invade a área das incertezas; o becão de fazenda, que chuta para o alto a tristeza; o goleiro que não se intimida e defende com veemência as acusações de adultério; o lateral-mochila, que carrega nas costas, o peso da existência.

Solteiros X Casados, os famosos contras de ruas, times de várzea, disputas de condomínio, todos são elementos constitutivos do universo ludopédico do botequim. Sem falar nos exóticos times, como: Nostravamos Futebol Sênior, Barcelama, Ruim Madrid, E. C. Bom D’copus, Inter de Meião, Toma Todas F. C.

Um dado interessante, é que todos são jogadores, técnicos e comentaristas esportivos, concomitantemente. Analisam cada momento da partida. Disparates são lançados incessantemente. São legítimos comentaristas esportivos. Cada um com a sua razão. Como diz um amigo meu, "falar besteira todo mundo diz, o duro é receber por isso".

Quem nunca fez uma tabela, com um pseudo-ex-jogador, que atire a primeira bola nas quatro linhas das divagações etílicas.

Régua e compasso e vamos ao delicioso livro, "Manual de sobrevivência nos butiquins mais vagabundos": "Ernesto é uma lenda que existe em qualquer boteco de malandro: ex-jogador profissional de um time que no momento anda na segunda divisão, quase jogou no Maracanã, começou com o Pelé, participou, como reserva, da festa de despedida do Zizinho, ia ser convocado para a seleção mato-grossense de aspirantes, mas foi vetado no exame de sangue, viajou toda a América do Sul – Venezuela, Equador, Guiana, você não imagina. Mas não deu sorte. Futebol ele tinha, mas a bebida e a sombra do Divino acabaram com a promissora carreira".

Eu mesmo, já fiz uma linha de passe, num boteco em São Paulo, com um antigo craque do XV de Piracicaba. O velho craque era peça fundamental num meio-de-campo memorável, com Zeferino da Quitanda, Arlindo Mascate e Rui Bafo de Onça. Áureos tempos do Nhô Quim.

Esquecido na passagem desbotada da memória. Craque de outrora, hoje cobrando escanteio no ostracismo.

Fla-Flu, San-São, Choque-Rei, Ba-Vi, Come-Fogo, Raposa versus Galo, Gre-Nal. Embates etílicos, acirradíssimos, travados literalmente, nas mesas dos botequins.

Duelos de titãs. Batalha dos Aflitos. Confrontos épicos, mas tudo dentro do espírito olímpico. Fair play. O único dissabor é sentido, apenas no dia seguinte, na indesejável ressaca, ou, na hilária tradução do Xico Sá, "numa paralisante dengue existencialista".


Comentários

  1. Realmente Gustavo, boteco é o melhor lugar pra se falar de jogo ou assistir, junto aos adversários ou conhecendo novos aliados da mesa ao lado.
    Precisamos ir no São Cristóvão, na Vila Madalena, uma decoração bem bacana e choop também.

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  2. ''.. gol de anjo ou de cão..saláfrario,sem-vergonha,ìnxirido,entrão...,então a mãe do juiz louvada e santa ,perto da reza que os adversários em tom de pentecostes entoavam na sua condecoração. Mulato sarará,magrelão com o calção lá no pescoso,enquanto o canjibrina ia buscar a bola que caiu no buracão que havia na lateral do campo ,tomava ele mais uma talagada do copo que esgueirava de um outro negro que gritava vai ,vai vaaai negão..a bola já vinha viajando feito um balão ,quando ele tomo posição e foi ao encontro dela com mimeses de um rufião ,esbofeteou com tanta força ,que ninguém viu se ele bateu foi com o peito ,com a barriga ou se deu na cara dela foi mesmo com a mão.Só sei que ela entrou mansinha no canto e ficou lá á espera que o goleiro lhe passasse a mão,como consolo em sublimação, mas dessa vez.., não deu pra ele não...

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