On the road



Feriado. Conexão São Paulo-Gastão Vidigal. Passei pela Paulicéia Desvairada, para tomar um chopp, com bons e velhos amigos, e preparar-me espiritualmente para a longa viagem até Macondo.

Depois de belos chopps, embarquei na Estação Anhangabaú do Metrô, rumo ao Terminal Barra Funda, local da saída do ônibus. Pé na estrada, meus caros PPP'S!

Entro tranquilamente no vagão e percebo que uma senhora me observa atentamente. Breves segundos e ela dirige-se até mim. Olho para os dois lados para conferir se não há mais ninguém do lado. Checagem feita e percebo que estou só, em ambos os lados. Olho para trás e não há nada, pois é a cabine do condutor do trem. Aliás, com toda essa tecnologia ultramoderna, nem tenho certeza se existe ainda condutor. Ou melhor, se é que existe o termo condutor. Convenhamos, termo mais que démodé, nos dias atuais.

- Não acredito, você por aqui!? Que satisfação vê-lo pessoalmente. Você é exatamente igual na televisão. Não muda nada!

"Quem será essa louca?" - penso comigo.

- Sabia que você não era fresco como os outros globais. Você sempre engajado em questões sociais e ambientais. É bom mesmo deixar o carro em casa e uitlizar o transporte público. Parabéns pelo seu trabalho e a sua militância. Sou sua fã faz um bom tempo!

"Que viagem onírica é essa?" - fico imaginando.

- Você pode me dar um autógrafo?

A minha hiper-hidrose, que é objeto de estudo de diversos cirurgiões, dos quatro pontos cardeais do país, fica mais exacerbada ainda. As Cataratas do Iguaçu são gotas d'água perto da cachoeira que verte das minhas mãos no momento.

- Siiiimm, siiiimm, é claro. - digo gaguejando.

E agora José? Que nome eu coloco? Nem sei com quem a matusquela me confundiu. Faço um hieroglifo para confundi-la, capaz até de ludibriar um especialista em escritas pictóricas.

Ela diz que descerá na próxima estação e se despede. Aliviado, solto a cinta que me comprime o ar.

Chego ao Terminal e dirijo-me à plataforma de embarque. Confiro o número da poltrona e sigo assobiando em direção a esta. Checagem feita, agora é só esperar o ônibus partir e dar aquele cochilo sereno.

Depois de cem quilômetros, precisamente em Campinas, sou acordado, abruptamente, por um brutamontes. O filisteu, parecido com um lutador de MMA, argumenta que a poltrona dele é a 19, ou seja, exatamente a minha.

Eu, todo soberbo, o dono da razão, faço questão de realçar o espaço, que sinaliza a numeração da minha passagem.

Ora bolas, nem dormir em paz, tenho direito. Indubitavelmente, o problema é uma falha da empresa. Overbooking. Rasgo o verbo e extravaso todo o meu libelo anticorporação.

O titã assentiu com a cabeça, para o meu alívio e segurança geral da nação. Sem delongas, dirigiu-se à poltrona que encontrava-se vazia.

Como diria o folclórico Nelson Rubens, "eu aumento, mas não invento".

Seguimos tranquilamente a viagem pós-incidente. Sem mais entreveros.

Depois de longínquos 550 quilômetros, finalmente, chego a Gastão Vidigal, cidade final do circuito. Desembarco e procuro urgentemente um banheiro. As necessidades fisiológicas clamavam por atenção.

Saio do banheiro e checo a passagem trivialmente, quiçá para referendar a minha soberana razão. Dou uma sapeada e não acredito no que vejo. Poltrona 21.

Pelas barbas do profeta, o brutamontes aceitou tacitamente o meu argumento. Aleluia! Dessa eu me livrei por pouco.

Vejo um carro estacionado, parecido com o do meu Pai. Parecido, pois no máximo, sei distinguir um Fusca de um Fiat 147. Entro no véiculo e aguardo amistosamente a chegada do meu Pai.

Passados cinco minutos, uma colona italiana entra no carro, soltando fumaça pela venta.

- Va al diavolo! Vaffanculo! Nem em Gastão Vidigal temos mais paz!

Saio a mil do carro. "Por onde andará o meu Pai?" - penso ofegante, no último suspiro do mouro.

Avisto meu genitor de longe. Aproximo-me e olho meticulosamente. É preciso certificar-me. Chega de confusão por hoje!

Depois da confirmação, a liturgia do afeto. Entusiasmado, não solto o meu Pai. Ele sem entender nada, sufocado, tentando se desvencilhar dos meus braços.

Eu, buscando no meu Pai, expurgar toda essa sangria desatada, que me subjugava.

O meu velho, entorpecido com a situação, só arengou:
- Eita lasqueira, ou você está com umas no juízo ou andou aprontando demais nessa viagem, hein rapaz?

Curtam a nossa Fan Page no Facebook:
https://www.facebook.com/papopetiscoepinga

Comentários

  1. GASTÃO É LONGE MEU IRMÃO,PODERIA TER ACONTECIDO MAIS PERIPÉCIAS AINDA.
    BACANA!
    REVERSON

    ResponderExcluir
  2. Kkk, o pior eh a dúvida q permanece: qual global eras tú? Felipe

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Felipe são delírios in concert. Estou mais para SBT e os seus dramalhões mexicanos.

      Excluir
  3. Ta parecendo alguém que conheci em Marília contando causos. Quanta conversinha Gustavo!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Bete como diria o Nelson Rubens, "eu aumento, mas não invento".

      Excluir
  4. kkk Muito boa Gustavo.. fica aí a pergunta.."Quem será este galã da Globo?"

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Acredito que não deva ser galã. Deve ser um coadjuvante ou um técnico de produção, algo assim.

      Abraço!

      Excluir
  5. Eu poderia lhe dizer com toda sobriedade de um impostor ''quando a gente vai envelhecendo,..''essas coisas aconteçem'' mas qual o quê..me lembrei daquele viagem Marilia- ilha Solteira,verão de 95, foram os 130 quilometros mais longo da minha vida ,só tinhamos a garantia da ida ..e sinceramente até hoje,... acho que não voltamos.... gostei dessa cronica e do seu ''realismo fantastico''. abraço.

    ResponderExcluir
  6. Olha meu caro amigo Gustavo,alçado de cronista ao posto de "ator global" heim...rs. Não posso esquecer de pegar um autógrafo seu em nosso próximo encontro, né. Vai que depois vc fica famoso de verdade e nem vai mais dar atenção aos reles mortais...kkk. Bjs,saudades!!!!

    ResponderExcluir
  7. Acho que a sra te confundiu com o Evaristo Costa, do Jornal Hoje! Dai o cara do ônibus ficou com medo de mexer com o famoso jornalista da Rede Globo...ele que pensou "nossa, que viagem onírica. O Evaristo pegando busão!"....hahaha...agora Gustavão, confundir a marca de um veículo??? Valei-me Deus!
    Bela crônica companheiro, espero que venha mais destas!!!
    Abr

    ResponderExcluir

Postar um comentário