Alpínia, uma flor amazônica: Parte 2


O conto "Alpínia, uma flor amazônica" está dividido em três capítulos, que serão publicados semanalmente.

Parte 2:

“Desce mais uma cerveja”. Já são mais de dez garrafas. Ébrios. Passamos pela linha tênue que separa os formalismos. A paixão avassaladora avança desenfreadamente, esmagando impiedosamente o convencionalismo blasé.

Em menos de uma semana, nos tornamos mais que íntimos. O igarapé é o cenário ideal do romance idílico. Devaneios.

Sou reprimido mais uma vez pelo meu tio. Não deveria velejar por águas turvas. Turbulência anunciada. Vociferada ad infinitum pelos marinheiros mais experientes. Mestres das embarcações que violam o recôndito das paixões proibidas.

O cheiro forte do profano assemelha-se ao murici. A combinação dos odores, da fruta à paixão proibida, é um sinal do mau agouro.

Expedito, nome do meu algoz. Nome de santo, ofício de justiceiro. Olhos impiedosos. Dedos ágeis. Duro como um bacuri.

Calculista. As gravações ocultas da noite recheada de prazeres foram premeditadas com frieza. Seria na verdade, uma carta na manga. Precavia-se do porvir.

Aguinaldo era aclamado como o novo prefeito. Nebulosa era a situação do opositor. Tempos de mudança.

O “não” simplesmente fora suprimido do dicionário de Expedito. Não digerira o fim do relacionamento com Alpínia. Era a mulher dos seus sonhos e da sua vida. Alpínia tinha duas opções; viver com ele ou resignar-se e passar incólume pelo universo das paixões.

Revoltado com o desenlace do romance, Expedito tramou tudo. Dois dias antes das eleições o vídeo teve ampla repercussão na internet.

As cenas de sexo ultrajaram a moral e os bons costumes. Pobre Pascal! “A verdadeira moral zomba da moral”.

As velhas práticas tomaram de assalto às eleições. Uma paixão, não correspondida, decretou a derrota política de Aguinaldo. Reviravolta geral.

Irmãos arruinados. Aguinaldo, o candidato, humilhado nas urnas, pela exposição, dura e crua da nudez da irmã. Alpínia transformada na nova “Geni”. Apunhalada por um dos mais belos atos humanos; o amor. Fora ingênua. Pagou alto pela ingenuidade.

Alpínia sobrevivia. Contra tudo e contra todos. O destino foi traiçoeiro. Agora não seria conivente. Resistiria a todas intempéries. O “Estrangeiro” conquistara o seu coração. Não seria permissiva.

O igarapé como ninho de amor. Os ribeirinhos espiavam pelas arestas da selva. Sempre de soslaio. Clímax da existência humana. Nirvana. O Estrangeiro e Alpínia. Alpínia e o Estrangeiro.

Pós-transcendência. Agora é só encostar na taberna e degustar uma cerveja. Ricochetear de prazeres. O tacacá amortecia a língua. Emaranhado de sensações.

A paixão era a mandatária do coração do Estrangeiro. A partir daquele momento, o Estrangeiro, flertado pela Vênus, não teria mais a incumbência de apresentar essa narrativa. Caberia, agora, apenas o papel de protagonista.

Uma figura inesperada, testemunha ocular do romance, assaltaria abruptamente a novela, e com o tinteiro nas mãos escreveria os capítulos finais da saga amazônica.

As eleições foram pouco para Expedito. Ele queria mais. Uma, duas, três. Desce mais. Mais. Sempre mais. Espasmos coléricos. Jamais Alpínia iria se relacionar com um forasteiro. Que fosse com um autóctone. Teria que ser com um nativo e no caso, em especial, com ele. Expedito. Sim. Sempre ele. Somente ele.

Aguinaldo, esboroado, abandonou a cidade. Na Belém-Brasília das humilhações seguiu caminho. Êxodo. Diáspora. Capitular jamais. O preço da desonra.

Projeções. Alpínia já elaborara um plano. O passado seria apagado. Suprimido. Marcas indeléveis, só no lastro da memória. Conexão São Paulo. O virado paulista suplantaria a maniçoba. Sobrepujava o passado. Melancolia só no pretérito.

As passagens foram compradas. Êxtase. Comemoraram como sempre. O mesmo ritual. Igarapé-taberna. Elixir. Expedito espionava pelo orifício do vilipêndio. Nunca fora desafiado. Eliminava rastros através da pólvora.

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Comentários

  1. Amei Gustavo!!!

    Beijo querido
    Luana

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  2. É Gustavo, vc parece ter se apaixonado por esse estado heim...Bjs!!!!

    Meiri

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  3. Vai ser difícil o Bar do Tião Piranha concorrer com a dobradinha "Igarapé-taberna" hein! kkkkkkkkk e viva a Apínia Barreto.

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