Alpínia, uma flor amazônica: Parte 3


O conto "Alpínia, uma flor amazônica" está dividido em três capítulos, que serão publicados semanalmente.

Parte 3:

O Estrangeiro excedeu. Não conteve deveras entusiasmo. Regozijou com muito álcool. O tamanho do contentamento era similar às doses ingeridas. Brincava com as palavras. Cupuaçu. Açaí. Pupunha. Tucumã. Graviola. A risada era abundante, como o transbordamento de felicidade.

Égua, fecha a conta. Quer que eu te leve, Paulista. Estou bem. Tu mal consegue se equilibrar, peste. Que nada, estou bem. Mal conseguia articular uma frase. Desconexas. Imprecisas. Indefinidas.

O Estrangeiro só viu o clarão. Depois mais nada. O corpo estendido no chão. A mensagem fora transmitida. Sem rodeios. Delongas. O sangue escorria. Gotejava.

Não sabia onde estava. Estupefato. O tio fora avisado de madrugada. Despertou no Pronto-Socorro. A face inchada. O bilhete no bolso era claro. Expedito não seria aviltado.

Alpínia estava aflita. Conhecia bem o caráter de Expedito. Sem limites para atingir o seu propósito. Determinado. Sagaz. Ernesto e Chico vigiavam a entrada do Ambulatório. Expedito era diligente. Ordenou o envio dos companheiros. Era arriscada a exposição.

Alpínia e o Estrangeiro se comunicaram pelo celular. Cada um iria sozinho. O encontro seria no Aeroporto de Belém. O livro seria escrito em quatro mãos. Aniquilavam-se presente e passado.

O Estrangeiro foi levado para Rodoviária pelos familiares. Era vulnerável perambular por Santa Maria. Duas horas até Belém. Uma eternidade para um coração.

Em Belém a espera era interminável para o Estrangeiro. Alpinia contratou um taxista para levá-la até o Aeroporto. Um ciclo era fechado em Santa Maria. Au revoir, Pará!

O vôo estava marcado para vinte e duas horas. Alpínia sentia um frio exacerbado na barriga. Beijou o seu muiraquitã, amuleto pessoal, para protegê-la. Não sucumbiria ao frio, ao contrário da flor homônima.

"Calma moça, não posso correr mais do que isso". O velocímetro subia gradativamente. "Pago dobrado a corrida".

Por ironia do destino, Alpínia, apaixonada pela obra de Niemeyer, particularmente pelas linhas curvas, sucumbiu a uma delas na rodovia.

Expedito, homem das causas injustas e urgentes, agradecia aos deuses o desejo alcançado.

O muiraquitã, despedaçado, e a curva, objeto de paixão, representavam o desfecho trágico de uma linda história de amor.

O Estrangeiro, aflito, contava cada segundo. Ligações intermináveis para o celular de Alpínia. Caixa postal. Nova tentativa. Caixa postal. Vinte e duas horas. Última chamada. Alpínia e Antero. Antero e Alpínia, favor comparecer ao local de embarque. Urgentemente. Última chamada.

Com o coração em chamas, metade contentamento, metade dilacerado, presenciei a agonia do Estrangeiro e pude, enfim, saber o nome daquele forasteiro, que todos chamavam, carinhosamente, de Estrangeiro.

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