Literacia: livraria, sebo & café


Meu caro amigo, Machado, entrei numa casa que não era exatamente uma casa, propriamente dita.

Bruxo do Cosme Velho! Posso te chamar assim?

Não sei se você me entende, é que fica difícil descrever nitidamente, mas era uma casa e livraria, tudo junto.

Ora, pois! E não era só isso! Era igualmente um espaço cultural.

Um café? Sim, era um café também. Quiçá, um restaurante.

Um botequim?

Pode ser, pois era possível saborear uma cerveja, enquanto eu sorvia o gosto prazeroso das palavras, que escorriam voluptuosamente pela boca.

Sedento pelas palavras, que ora me devoravam, ora, eu as devorava, fui repentinamente entorpecido pela literacia.

Não são quimeras, coisa e tal. O lugar existe, sim senhor.

Literacia: livraria, sebo & café.

Eis o nome do éden gutenberguiano.

Para caetanear o que há de bom, "encher de vãs palavras muitas páginas/e de mais confusão as prateleiras/tropeçavas nos astros desastrada/mas pra mim foste a estrela entre as estrelas".

Senti-me como você, Machado, na sua bela crônica "O livreiro Garnier"; "sentados os dois, em frente à rua, quantas vezes tratamos daqueles negócios de arte e poesia, de estilo e imaginação, que valem todas as canseiras deste mundo".

"Não é mister lembrar o que era essa livraria tão copiosa e tão variada, em que havia tudo, desde a teologia até à novela, o livro clássico, a composição recente, a ciência e a imaginação, a moral e a técnica. Já a achei feita; mas vi-a crescer ainda mais, por longos anos".

Absolutamente não era uma relação estritamente comercial.

Vivaz. Tenaz. Sagaz. E dá-lhe az! Jamais um ambiente asséptico, como essas livrarias modernas. Essas megastores da vida.

Tinha um quê de Ornabi. Quem conheceu, entenderá.

Consumi livros e prosas, desfrutei de conversas graciosas... e saí, embasbacado, espírito e alma, formosas.

Machado façamos como Castro Alves e saudemos quem semeia livros!

"Por isso na impaciência
 Desta sede de saber,
 Como as aves do deserto
 As almas buscam beber...
 Oh! Bendito o que semeia
 Livros... livros à mão cheia...
 E manda o povo pensar!
 O livro caindo n'alma
 É germe — que faz a palma,
 É chuva — que faz o mar".

Curtam no Facebook a nossa Fan Page:
https://www.facebook.com/papopetiscoepinga

Comentários

  1. Mais um texto de primeira, sobre um lugar que mora em nossos corações. Ana Lú, Waz, Rita, Fefe e Pó, nos abraçam com livros, amor e amizade!

    ResponderExcluir
  2. "Oh! bendito o que semeia / Livros, livros, à mancheia / E manda o povo pensar..." É o que um país precisa,mais livros,idéias,consciência e tantos outros valores humanos----sem falsos moralismos----e menos besteirol,abobrinhas e outras cositas mas...Valeu a crônica,Gustavo.Ela descreve com bom humor o ambiente mágico e nobre dos livros à mão cheia.

    ResponderExcluir

Postar um comentário