Entrevista imaginária com o escritor Xico Sá


Meus caros leitores, para quem não sabe, o escritor Xico Sá foi eleito, por unanimidade, como o Patrono-mor-grão-mestre da Ordem do blog PPP.

Xico Sá, em suas crônicas, classificou vários tipos de homens, dentre eles, o Homem-Ossanha, que é o típico "homem que diz vou/Não vai!"

Xico vive falando do Homem-Ossanha em suas crônicas, mas um fato que chama a atenção e deve ser levado em consideração, é que o próprio escriba reproduz o modus operandi desse tipo de homem.

Sim, meus caros, pois o mesmo vive marcando entrevistas com o PPP e depois diz "não vou".

Um certo dia, eu no aconchego do meu lar, depois de bater vários petiscos, beber muito papo e comer deveras pinga, fiz essa entrevista imaginária com o escriba, que segue abaixo.

PPP: Xico, sabemos da sua identificação sentimental com a capital pernambucana. O que foi morar em Recife, ou melhor, o que é Recife para você?
Xico: Gustavo, só uma observação, "antes de tudo um alerta, inclusive para os recifenses mais jovens: o certo é O Recife, no Recife. Dizer em Recife é o mesmo que dizer em Bahia, em Rio. Pra gente soa um desastre. E é errado". "Amar mulheres muitas, amar cidades só uma: Recife. Disse certa vez o poeta e tradutor alagoano Lêdo (Engano) Ivo, como chamamos no trocadilhismo bêbado". "Assim como sempre amei mais do que uma mulher, amo mais de uma cidade. Nenhuma, porém, amo mais que o Recife". Recife para mim é "o final da tarde no bar 25ª DP em Brasília Teimosa, Hellcife, com os 17 tipos de morenidade catalogados em um estudo que fiz com o Dunca Lindsay. Da jambo-girl à morena fogo-pagou. A sequência, óbvio, é uma esticada no Central, o jardim dos caminhos que se bifurcam na noite sob o vento do Capibaribe".

PPP: Xico mudando de pato para ganso, me fale um pouco sobre o futebol brasileiro. Você ainda acredita na recuperação do nosso futebol-arte?
Xico: O "futebol-gourmet-coxinha de hoje"? Não é ficar mascando "o chiclete ploc da nostalgia", mas "precisamos urgentemente recuperar nosso passado de cão mordedor. Vira-lata ou de raça. Não importa. E principalmente precisamos esquecer a Europa. Precisamos comer, viver, existir e jogar bola como brasileiros. Pela repatriação do nosso inconsciente coletivo. Voltemos à várzea para sermos grandes de novo. Pelo direito imediato de chamar todo lateral esquerdo de João, como fazia o Garrincha". Gustavo, desculpa o desabafo, mas é preciso vociferar: "às favas, bando de encafifados".

PPP: Hoje todo mundo é um chef de cozinha e sai arrotando conhecimentos gastronômicos pelos botequins. Você também é um desses? Na mesma onda, Xico, você também é um conhecedor de vinhos, digamos, um enólogo de plantão?
Xico: Meu caro PPP, me respeita, cabra da peste. Isso de chef é tipicamente o que chamo de homem-hortinha, "aquele mancebo que, ao receber as moças elegantemente para um jantar, usa o manjericão cultivado na própria hortinha que mantém no quintal ou na área de serviço. Cultivar o próprio manjericão não é exatamente o defeito do rapaz. O problema é que ele passa duas horas a discorrer sobre o cultivo da hortinha. Uma amiga, coitada, conheceu um destes exemplares que cultivava até a própria minhoca usado como “fator adubante” da própria hortinha". Sobre vinhos é o que intitulo "homem-bouquet. Esse tipo é "aquele macho que entende de vinhos finos, abre a garrafa cheio de drama e nove-horas, cheira a rolha, balança na taça, sente o bouquet e curte o amadeirado. Gostar de vinho bom, velho Baco, não é um delito. Pecado mesmo é arrotar esse conhecimento por horas nas oiças da moça. Dispare, Lola, dispare enquanto é tempo".

PPP: Patrono, posso te chamar assim, né Xico? Você além de um exímio levantador de copos, qual outro esporte que pratica?
Xico: Vade retro, satanás! Não pretendo morrer rosado, caro Gustavo. "A situação me faz lembrar aquela diálogo de Vinícius de Moraes e o genial Antônio Maria –"ninguém me ama, ninguém me quer…"- na saída de uma boate de Copacabana, lá pelas seis da manhã, óbvio. Saem do inferninho e testemunham um grupo de homens, homens maduros, fazendo ginástica na praia. "Lamentável", dizem, em uníssono.
— Vamos fazer um pacto, sugeriu Maria, em tom grave.
— Juramos neste momento que jamais participaremos de uma calhordice como a desses sujeitos. Jamais faremos qualquer esforço físico desnecessário. Topa?
Firmam o pacto e gritam, às gargalhadas, para os tiozinhos:
— Seus calhordas! Seus calhordas"!

PPP: Rindo muito aqui, Xico, mas me assuntaram que tu aprecia um copo de água no amanhecer do dia. Parece que é uma dica de saúde que você recomenda, caro escriba.
Xico: "Peraí, meu rapaz, que diabos eu tenho a ver com isso? Sim, eu sei, ingerir o precioso líquido nas primeiras horas da manhã é um hábito saudável, mas entorne o seu copázio lá com as suas negas, não careço de tais notícias particularíssimas, vê se me erra, camarada. Fosse pelo menos uma daquelas garrafas do velho Anísio Santiago, aí sim, até levaria uns torresmos, um marreco, um ponche, um capote para o banquete na taverna. Agora suco de laranja com torradas e queijo fresco, light, claro... Certo, amigo, você se cuida, seguramente vai morrer cheio de saúde –pense em um defunto rosado, mas não carece encher o saco dos outros".

PPP: Xico, que dica você daria para quem almeja tornar-se um escritor?
Xico: Hombre, "logo mais não teremos encanadores, bombeiros, eletricistas, bancários, pequenos agricultores, a boa gente do comércio, excelentes amassadoras de pães-de-queijo, exímios pontas-de-lança, mulheres prendadas, tapioqueiras, profissionais do lar... Apenas escritores, cineastas, praticantes da nanoarte, comediantes em pé, críticos benjaminianos, pintores, tradutores, tribalistas, transgressores".
PPP: Segundo a ala masculina do blog, você, caro escriba, é mais feio que cão chupando manga. O que então explica a sua fama de Don Juan do Crato?
Xico: "Saiba que as mulheres, ao contrário da maioria dos homens, são demasiadamente generosas. E não me venha com aquela conversinha miolo-de-pote de que as crias das nossas costelas são interesseiras. Corta essa, meu rapaz. Se assim procedessem, os feios, sujos e lascados de pontes e viadutos não teriam as suas bondosas fêmeas nas ruas. Elas estão lá, bravas criaturas, perdendo em fidelidade apenas para os destemidos vira-latas". E tem outra, "saiba, por derradeiro, irmão de feiúra, que a vida é boxe: um bonitão tenta ganhar uma mulher sempre por nocaute, a nossa luta é sempre por pontos, minando lentamente a resistência das donzelas".

PPP: Xico, para fechar, segue a saideira. Onde todo cronista deve buscar a sua inspiração?
Xico: Cada cronista tem a sua. Viva o botequim, pois "aí está minha grande fonte. É nessa instituição nacional que colho tudo para a escrita hoje em dia. Do boteco mais pé-sujo ao mais arrumadinho de classe média. Com uma ida vez por outra aos puteiros, lógico, que não são os mesmos, mas continuam grandes lares de histórias prontas para um repórter ou cronista".

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Comentários

  1. Matuta de entrevista; esperemos o comentário do cabra do Crato. Se é que ele virá. kk

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  2. Que devaneio... vamos esperar a entrevista real!

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  3. Eita puerra, Gustavo, q honra! Valeu demais.abrazo

    xico.

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  4. Mas e aí Xico, as respostas corresponderam à vossa persona Cratense?

    Falta marcar aquela cervejada! Abço.

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  5. Muito boa, Gustavo. Bom texto, boa pesquisa para as respostas. E como dizem em sites pornôs por aí, falta a "real" rsrs. Abç, Felipe

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