Meu amigo Pedro

"Hoje você é quem manda, falou, tá falado, não tem discussão".

Bar do Zenon ou Zena's Bar? Você decide, quixotesco leitor.

Esse pitoresco bar, situado em Neves Paulista, interior de São Paulo, é um símbolo da memória nevense.

Longínquo rincão, onde jaz o Clube Atlético Nevense, time de grandes glórias. Gigante do interior paulista.

Carlinhos, meu tio, foi frequentador assíduo do botequim. "Naquela mesa ele sentava sempre/e me dizia sempre o que é viver melhor/naquela mesa ele contava histórias/que hoje na memória eu guardo e sei de cor".

Zenon herdou o apelido, em função da semelhança física com o craque homônimo. Fruto do bigode nietzscheano, cultivado ao longo das primaveras.

Meu amigo Pedro, ou Zenon, foi motorista por longos anos da antiga gravadora CBS.

Exímio motorista, tinha a nobre missão de conduzir os cantores baianos em seus périplos pela Paulicéia Desvairada.

Sobrevivente de muitas manhãs, depois de mil e uma noites etílicas, com nada mais, nada menos que Raulzito, acabou tornando-se amigo pessoal do Maluco Beleza.

Na dura poesia concreta das esquinas de Sampa, Pedro sempre com o mesmo terno, conduzia o carimbador maluco.

Segundo uma mosca, que pintou para me abusar, a música "Meu amigo Pedro" foi composta em sua homenagem.

No documentário, "Raul: o início, fim e o meio", a versão apresentada é que a música foi composta para o irmão do Raul, que na verdade não é Pedro, e sim Plínio.

Existem várias controvérias sobre quem Raul, verdadeiramente homenageou, ou fez a alusão. Na nossa sociedade alternativa, eu fico com a versão do Zenon, "pois é tudo da lei".

Ouço rumores na cidade que querem derrubar o botequim. Sabe-se lá por quê. Especulação imobiliária? Pode ser, incauto leitor.

Se hay especulação, soy contra!

Chamem o síndico Tim Maia e lutemos contra.

Anéis mágicos, entrem em ação, e acionem o Condephaat, Iphan e Unesco.

Um marco da cultura nevense não pode ser suprimido da nossa memória. Até porque, meu amigo Pedro, onde você vai, eu também vou.

"Toda vez que eu sinto o paraíso/ou me queimo torto no inferno/eu penso em você meu pobre amigo/que só usa sempre o mesmo terno".

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