Epifania 244: mais um fragmento do meu romance de estréia


       O motociclista buzinou e atravessou a faixa, sinalizando obscenamente o dedo médio para o Velho. Uma senhora que estava no meio-fio solidarizou com o Velho e comentou sobre a imprudência no trânsito. O velho assentiu com a cabeça e saiu em seguida. Depois de passar pela senhora, murmurou consigo mesmo que o motoqueiro tinha razão. Balançava a cabeça referendando a atitude do motorista.
Buscou outro caminho. Deu voltas pelo bairro para chegar ao bar. Parecia um assaltante buscando rotas de fuga. Observou fachadas de prédio, até então desconhecidas, ou, completamente ignoradas. Apreciou vitrais. Meditou sobre as vicissitudes da vida. Buscou contemporizar com donas de casa, que observavam os filhos brincando nas calçadas.
Chegou no Epifania, ofegante. Pediu logo um duplo. Osório, surpreso com a palidez do Velho, atendeu com agilidade o pedido. Dos prantos ao transbordamento. Um êxtase arrebatador invadiu-lhe as narinas. Elaborou discursos sobre a transcendência do homem. Fez gracejos com os frequentadores e bebeu com vigor de um remador. Bebeu como nunca. Bebeu como ébrios, num entardecer praiano.

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