Soneto do amigo


Poxa vida, Leonardo Brandão!

Só o poeta de Itabira agora para falar. As palavras sumiram, como o abraço de despedida.

"Antecipaste a hora/teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas/que poderias ter feito de mais grave do que o ato sem continuação, o ato em si/o ato que não ousamos nem sabemos ousar/porque depois dele não há nada?"

Amigo de mil carnavais; de "tantos caminhos, de tantas jornadas".

É amigo: lembra dos tempos áureos da nossa infância?

Lembro de quando eu tinha a obrigação vespertina de limpar o quintal. Ossos do ofício da minha adolescência.

Você sedento para assistir televisão.

Pois bem, eu, um vil senhorzinho de engenho, deixava você assistir a "Sessão da tarde" e, em troca, você limpava o quintal para mim.

Quanto abuso por minha parte!

E aquela vez que fomos preteridos de um passeio. Lembra?

Você, um traquinas nato, articulou a nossa vingança.

Amarramos as bicicletas dos nossos oponentes, em cima de uma frondosa árvore.

Tantas travessuras! Aquilo me rendeu uma boa surra dos meus pais.

Mais uma: uma vez pedi para um amigo buscar a minha bola em casa. Os meus pais estavam viajando. Recorda?

O meu amigo avançou o portão da entrada e você, indômito, não permitiu a entrada dele.

Grande amigo e vizinho.

Custava eu te avisar, que ele tinha a minha permissão. 

E quando eu voltei a primeira vez da faculdade. Você me perguntou qual curso eu fazia.

Faço biblioteconomia - respondi, na mais absoluta ingenuidade.

E você retrucou: Biblio o quê?

Engataste uma marcha inesgotável de galhofa e desceste embalado a avenida do gracejo.

Sempre com o seu sorriso de menino. Um sorriso inigualável.

"Um bicho igual a mim, simples e humano/sabendo se mover e comover/E a disfarçar com o meu próprio engano".

Vou ficando por aqui, Leonardo. Infelizmente, igual aos estrofes de Iracema, do Adoniran Barbosa: "eu perdi o seu retrato".

Nenhum mísero retrato para por nessa soturna crônica.

Grande abraço, meu velho.

"Pois seja o que vier, venha o que vier/qualquer dia, amigo, eu volto/a te encontrar/qualquer dia, amigo, a gente vai se encontrar".

Descanse em paz, Lambão!

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Comentários

  1. Oi Gustavo,
    Boas lembranças de nossa infância quando ele era ainda o NININHO...!!!
    Alessandra

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  2. "REVÃO, REVÃO, Ó GALADA NO TIÃO PIRANHA HOJE A NOITE HEM, BÃO DEMAIS!"
    GRANDE LAMBÃO...
    REVERSON

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  3. "LAMBÃO CONTRA A MULHER MONTANHA"... ESSA ERA A TÔNICA DE SUA IRREVERÊNCIA!
    PANTA

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  4. Parece que estou ouvindo a D. Rosa gritar: "Oh Nininho!" e ele assistindo televisão com seu sorriso moleque!
    Bj

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  5. Linda homenagem Gustavo. Bem coisa de amigo mesmo. Que ele descanse em Paz.

    Meiri

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