Pequenos causos do futebol vidigalense


Gastão Vidigal é um celeiro de craques e de histórias fantásticas, estas sempre permeadas com ingredientes surreais.

Nos idos anos 80, um campeonato de futebol de salão ganhou destaque regional, sobretudo, pela presença de dois fenômenos em quadra: o imbatível goleiro Alfredinho, mascote do blog e o pivô artilheiro Beto Melancia.

Duas equipes antagônicas brilharam em quadra. Uma estrelada pelo goleiro Alfredinho, que para delírio dos fãs, não havia levado nenhum gol em vinte jogos.

A outra contando com o craque Beto Melancia, que nas vinte pelejas, surpreendendo até o mais cético dos torcedores, havia furado a rede trinta e cinco vezes.

Sem licença poética, incauto leitor, que depois da abundante ceia, teima em não acreditar nas mal traçadas linhas desse pobre cronista chinfrim. 

O oportunista artilheiro furava literalmente a rede, tamanha a potência do seu chute.

Os patrocinadores do certame pensaram seriamente em abandonar o mecenato, pois o gasto com redes era exorbitante.

Para o delírio da torcida vidigalense e dos amantes do futebol-arte, a peleja final foi decidida pelos times dos dois craques oponentes.

Rádios e periódicos regionais anunciaram com entusiasmo o grande embate do século.

Quem haveria de vencer o duelo? O Aranha Negra Alfredinho, apelidado assim pela semelhança futebolística com o goleiro russo Yashin, ou o artilheiro Beto Melancia, conhecido em todos os rincões pelo vigor do seu chute.

No contexto da Guerra Fria, o chute do oportunista artilheiro era conhecido como Sputnik vidigalense.

Pois bem, leitores glutões, vamos ao que nos interessa, pois o resto não tem pressa.

O primeiro tempo, disputado incessantemente, foi ofuscado pela ausência de tentos.

O segundo tempo foi ainda mais disputado. Uma partida digna de Copa do Mundo. Só faltava o gol para selar a qualidade da peleja. O público não acreditava. Tudo caminhava para a disputa por penalidades.

No minuto final, para deleite da torcida efusiva, um pênalti foi assinalado pelo árbitro.

Nem o mais incrédulo leitor acreditaria nesse final emocionante.

Torcedores com problemas cardíacos foram aconselhados a deixar a arquibancada.

Mães preocupadas com a cena insólita procuravam pelos filhos peraltas.

Apostadores desembolsavam pequenas fortunas acumuladas no recôndito dos seus lares.

O desenlace foi caracterizado pelo apito estridente do árbitro.

Beto Melancia ajeitou a bola e dirigiu-se ao meio da quadra. Alfredinho, o Aranha Negra, compenetrado, tentava desconcentrar o adversário.

Todos temiam pela integridade física do arqueiro.

O artilheiro impiedoso, alheio aos gritos ensurdecedores dos altruístas torcedores, correu e lançou o petardo.

Alfredinho, com a astúcia de um felino, segurou o potente chute com frieza.

A arquibancada veio abaixo. Ninguém acreditava na inacreditável defesa.

Quando o movimento da sístole e diástole, enfim voltou ao normal, puderam observar o mais absurdo dos epílogos.

A bola repousava serenamente nos braços rijos de Alfredinho. Minto, nobre leitor, somente o capotão, para usar o termo da época, descansava nas garras do arqueiro.

A câmara de ar havia rompido o invólucro e fora projetada para o fundo das redes.

Até hoje não existe um consenso sobre o resultado. Ora, alguns defendem como fato incontestável a defesa do goleiro, ora, outros alegam a legitimidade do gol.

Só um fato não é contestado e está fora de litígio: foi esse pequeno incidente que originou o surgimento do tapetão no esporte bretão. 

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Comentários

  1. Tinha certeza que a queda da Lusa era coisa de vidigalense...kkkk

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  2. Grande Gustavo, muito boa essa história kkkkkkkkkkkk

    Falando em futebol vidigalense e Lusa, não podemos esquecer daquele meia atacante vidigalense que jogava pela esquerda, muito craque, cujo treinador da base lusitana não teve faro futebolísticos para reconhecer seu talento nato kkkkkkkkkk

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  3. Bacana mesmo Gustavo, nem se alterássemos as regras da International Board, ainda assim ficaria a dúvida: O gol deveria ser validado? Que as conjecturas e os debates, forneçam em doses abundantes o alimento para a imaginação Vidigalense...
    Abraços!!!

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