Gastão Vidigal: Parte 3


            Buk supriu a ausência do Epifania com o Boteco do João Porva. Toda tarde refrescava-se embaixo do ipê-amarelo, de bermuda, sandália de couro, descamisado e copo de cerveja na mão.
Quarenta e cinco dias morando em Gastão Vidigal e sentia-se como um nativo. Conhecido por todos moradores dos arredores. Cidadão honorário.
Numa sexta-feira à tarde, Buk se encaminhava para a segunda cerveja do dia, quando um homem aportou no bar com a sua bicicleta vermelha, Monarca, modelo Barra Forte.
Com um movimento na coroa, retraiu os pedais, fez um giro rotacional, e fixou a bicicleta no meio-fio da calçada.
Era negro, alto, delgado, e caminhava com distinção. Vestia uma calça de linho desgastada pelo uso frequente, chinelos com a palmilha invertida, ocupando o lugar do solado e vice-versa e com as tiras solidamente presas por um arame. Na cabeça, para se proteger do sol escaldante, um boné surrado, sem a pala. A camiseta branca, suja de terra, com a frase estampada na parte de trás, “a vontade do povo, é Bujão de novo: quatorze mil, quatrocentos e cinquenta”.
Dois cachorros o acompanhavam. Um coxo e outro malhado. Ambos vira-latas. Atendiam pelos nomes de Mará e Turvo.
Entrou no bar e, com o movimento dos dedos polegar e indicador, sinalizou o pedido.
Uma lavrada, Porva, daquelas temperadas com carqueja.
É pra já, seu Bento – respondeu Porva, imediatamente.
Pegou a bebida e caminhou para fora do bar. Procurou abrigo embaixo dos galhos do ipê-amarelo. Não tinha notado a presença de Buk. Só quando ia sentar-se num tronco de árvore, que servia como assento, percebeu a figura do Velho.
Cabe mais um, meu sinhô?
Com certeza, meu caro. Fique à vontade. Tudo bem com o senhor?
Nem pió, nem mió, sempre naquela toadinha. Bento Preto às suas ordis. Qual a sua graça?
Velho Buk, ao seu dispor. O senhor mora por aqui?
Sempre morei, mas não moro na vila não. Moro no sítio. Lá na Canjarana.
Eu sou novo aqui, estou há pouco tempo. Não conheço os arredores.

Comentários

  1. Cabrinha Q LEgal .... Sou de Gastão Vidigal .... Eu me lembro desta data da foto, se não me engane foi em 24 de junho de 1975 -- Vagner Miasso PS- Escreva mais

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  2. Desculpa menino, foi em 1974, pois em junho de 1975, já tinha asfalto aí em Gastão , o Tio Valdelin é quem asfaltou, Abraços Vagner Miasso

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