Um gato preto, moribundo, repousava num andor, na aresta insalubre do
quarto. Obras hagiográficas de couro, amparadas verticalmente por dois
bibliocantos rústicos, feitos de ferro fundido, enfeitavam as estantes. São
Benedito, em formato de miniatura, compartilhava a prateleira da velha copa de
sucupira-do-cerrado, com uma xícara de café ao lado, que tinha o propósito de
servir como oferenda.
Bento retornou ao oratório com uma ramada de arruda, guiné-pipi e alecrim
na mão esquerda. Na mão direita, um rosário. Pediu para Buk silenciar.
Tartamudeava palavras, lembrando grosso modo, um ventríloquo falando
esperanto, enquanto balançava a ramada sobre Buk. Partículas de pó suspensas no
ar provocavam nas narinas de Buk uma coceira detestável. O gato preto, alheio
ao benzimento, dormia o profundo sono dos felinos, balançando o rabo
esparsamente.
Passados quinze minutos de benzimento, Bento Preto deu um leve toque com
a mão direita, calejada, nas costas de Buk, que toscanejava indecorosamente.
Seu Buco, o sinhô pode ficá tranquilo. O seu sono vai vortá ao normal e o seu corpo também tá fechado desde agora. Adeus sono ruim.
Seu Buco, o sinhô pode ficá tranquilo. O seu sono vai vortá ao normal e o seu corpo também tá fechado desde agora. Adeus sono ruim.
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