Heitor
Candeia procurou Heitor no pensionato. Lá o informaram que Heitor atualmente
trabalhava numa obra, próximo da Praça Princesa Isabel, rua General Osório. Candeia
lhe ofertaria um ponto na Passarela das Noivas, do lado de baixo da Rua Mauá. O
lado menos valorizado.
O trabalho informal seria apenas de fachada. Seria somente o lugar que
movimentaria as entranhas do submundo das drogas ilícitas. Imaginava Heitor
usando um escafandro. O escafandro seria o subterfúgio. Mergulharia no mundo do
crime com uma vestimenta hermeticamente fechada, protegendo-o do monstro
marinho da vigilância policial.
Heitor, por acaso está se escondendo
da polícia, ordinário?
Preciso trabalhar, meu caro. Os
amigos somem nos momentos adversos.
Caprichou no verbo, hein! Saca só, tá
tudo fechado. Abandona a obra. Arrumei um ponto para você. Você ficará com uma
banca na Passarela das Noivas, perto da São Caetano.
E os produtos, Candeia?
Não falei que está tudo arrumado.
Você só precisa sair do pensionato. É necessário um lugar para guardar a
muamba.
Mas como eu faço isso, Candeia?
Difícil arrumar um fiador por aqui. Só conheço mulambo em São Paulo.
Eu arrumo os três meses de caução
para você. Camaradagem.
Candeia projetava em Heitor a sua
extensão no mundo do crime. Sentia-se como um jogador de futebol canhoto. Conjecturava
uma situação em campo onde atuava com extrema habilidade. Muita técnica. No
entanto, faltava a perna direita. A explosão, evidentemente.
Candeia era o ângulo agudo, já Heitor, geometricamente, o complemento
para preencher a lacuna e igualar o ângulo reto. Caso fossem traduzidos por
Eleonora, apaixonada pela Biologia, seriam vistos como líquen. A simbiose de uma
alga e de um cogumelo.
Heitor, a manifestação concreta da ação. Candeia, o teórico, responsável
por idealizar as ações.
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