Heitor
A saída do pensionato representou o fim do primeiro ciclo, em São Paulo,
para Heitor. Alugou um cômodo na Rua Guilherme Maw, próximo à Rua São Caetano. Eram
quatro cômodos reunidos num extenso corredor. Abria-se um portão de ferro e
avistava-se os dormitórios. As portas de acesso eram nas laterais das casas. Do
lado esquerdo das residências, no enorme vão disponível, crianças brincavam
freneticamente, ziguezagueando perigosamente entre os varais de arame farpado.
Jiraus de madeira eram adaptados em gamelas. Fios elétricos, repletos de pares
de tênis, e pipas abandonadas coloriam o céu cinzento. Cachorros e gatos
maltrapilhos cruzavam o quintal em clima de perfeita harmonia.
Dividia o banheiro com uma família.
Um espaço relativamente pequeno, para Heitor, era exatamente o mesmo da família
vizinha. Família constituída por cinco membros. Pai, mãe e três crianças, fora
os dois cachorros.
Malditos cachorros – vociferava
Heitor – ainda dou bola para eles.
Bola, no seu linguajar, era uma gíria para designar veneno.
Somente seiscentos metros o
separavam do local da banca. A proximidade com a moradia era fundamental, pois
transportava no carrinho de mão os produtos a serem comercializados.
Heitor vendia chicletes, balas,
chocolates, isqueiros, chaveiros, pentes para cabelo, pilhas e outras miudezas
em geral. A localização estratégica, já que se tratava de um lugar de ampla
movimentação, garantiria outras vantagens. Na verdade, o comércio era apenas de
fachada.
A ênfase era, sobretudo, nas balas.
Brancas e pretas. As brancas, recheadas de cocaína, as pretas, de maconha. As
maconhas eram vendidas em abundância, porém, eram menos rentáveis que as
brancas. Heitor tinha preferência pelas brancas. Além do lucro maior, gostava
da relação com os clientes. Não pechinchavam. Eram ágeis, sem delongas. O
intuito era, ao longo dos anos, comercializar somente as balas brancas.
Esperava arrefecer paulatinamente a venda das pretas.
Visão de mercado, não era isso que
Candeia sempre dizia? Pois bem, teria então o seu nicho específico.
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