Eleonora
Jamais Jair fora uma opção. Estava fora de cogitação. Eleonora não tinha
fígado para Jair. Sentia náuseas. Repulsa pela sua aparência. Jair a incomodava
pela insistência.
Não passa de um reles porteiro, além
de tudo, um abusado, que falta me comer pelos olhos – resmungava Eleonora.
Tudo começou a mudar quando Eleonora
vislumbrou em Jair a possibilidade da redenção. Uma alternativa palpável de
escapar do cortiço.
Jair era porteiro, tinha um salário
modesto, mas desfrutava de uma bela residência. Herança de família. Uma afável
morada. Rua do Bixiga. Lugar pacato e com clima bucólico.
Todo santo dia, religiosamente, ao
sair do trabalho, Jair passava no Bar do Fumaça, na Rua Abolição.
O Bar do Fumaça era um salão
contíguo ao Epifania Áurea. Um boteco operário, frequentado essencialmente por
trabalhadores. Destoava do vizinho ilustre, o Epifania, que atraía um público
mais cult.
Fumaça, uma meia-cerveja e um
torresmo. Pega um daqueles que cola no coração e dá aquela engraxada – pediu
Jair, em tom zombeteiro.
Jair, meu velho, hoje veio uma
sirigaita aqui te procurando. Pelo jeito vai perder o queijo, hein amigo! –
provocou Fumaça.
Está tirando onda, porra? Fala
sério.
Eu lá sou de vacilar, Jair. Ela
passou aqui e perguntou que horas você chega. Não fui bancar o louco de abrir a
boca. Vai saber, né! Hoje em dia. Pediu somente para te avisar. Inclusive, para
não esquecer de dar o recado. Não guardei, nome estrambólico. Lembrei, lembrei.
Lembra daquela música do João Bosco? Como é mesmo o nome? É assim, “é goiabada
cascão, com muito queijo, depois café, cigarro e o beijo de uma mulata, chamada
Leonor ou Dagmar”. Pois é, ou é Leonor ou Dagmar, igual na música.
Não seria Eleonora?
Pode ser, Jair. Morenaça, hein! Delícia
de mulher. Até que enfim, Jair. Mandou bem.
Qualé, Fumaça? Deu de crescer os
olhos por cima da carne dos outros. Vai se lascar.
Perderia meia horinha com ela,
tranquilo. Sem stress.
Jair ficou desnorteado. Qual a
intenção de Eleonora? Acostumara-se a ser sempre tratado com desdém por ela.
Acorda, Jair! Deu para sonhar com os
olhos abertos?
Fumaça, por gentileza, uma
menstruação no capricho – solicitou, o jocoso Zé da Cueca.
Pediu, está na mão, camarada.
Que diabo é isso de menstruação? –
inquiriu Branquinho.
A famosa pinga com groselha, meu
amigo. Invenção do Nestor Borracheiro. Imaginação fértil, né? Deve ficar o dia
todo matutando na borracharia, esperando a hora de vir para o bar e soltar
essas pérolas.
Todos riram no bar, menos Jair que
continuava absorto.
Hora de me recolher, companheiros –
discursou, Jair.
Não vai esperar o jogo? Quem te viu,
quem te vê, hein, Jair!
Caralho, nunca vi o Jair assim – comentou Branquinho com o Fumaça.
Rabo de saia. Já ouviu falar? Então!
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Menstruação Gustavo. Eu conhecia pinga com groselha como bomberinho, da época do Sr. Divino ainda, lembra?
ResponderExcluirBjs
Meiri
Pois é, Meiri, lembro bem dessa época. Bons tempos!
ExcluirGustavo,
ResponderExcluirPor intermédio de um amigo do Facebook acabei chegando no seu blog. Em princípio a intenção era somente ler Epifania 244: Parte 8, todavia, dada a qualidade do texto, acabei lendo todos os demais, Seja na forma ou no conteúdo, seus textos são primorosos!
Abraços,
Rafael Oliveira.
Grande Rafael! Muito obrigado, meu caro!
ExcluirFiquei lisonjeado demais! Se puder compartilhar, eu agradeço imensamente.
Abrazo